segunda-feira, 2 de junho de 2008


O COCÔ


Professor Anderson de Campos

Todos faziam o que já estavam habituados. Dirigia-se ao terminal de ônibus urbano como se fossem robôs, afinal, todos precisam produzir, ganhar dinheiro, enriquecer poucos e manterem-se vivos até o final de seus dias.
Embora fosse possível separar classes sociais em quase pobres, pobres e quase miseráveis, ninguém deu muita bola para isso, pois, todos pagaram o mesmo preço pela passagem e se tratava de um coletivo – a maneira mais justa encontrada até hoje de conduzir operários ao trabalho.
Surpresa?
Ao pagarem a passagem todos avistaram um enorme dejeto canino perto da porta de saída,possivelmente sobras de seu jantar e pelo jeito bem gordo.
Pensaram: “Certamente o motorista irá limpar?”.
Engano.
O motorista não deu bola, afinal de contas desde que demitiram os cobradores, seus serviços dobraram. Mal chega de uma localidade e já parte para outra. Troca dinheiro o dia inteiro e certamente um cocô não mal nenhum. No final do dia ou noite, entregaria o ônibus na garagem da empresa e alguém limparia o dito cujo.
Começaram as reclamações, mas do valor da passagem ninguém reclamou.
Os operários de fábricas,possivelmente do terceiro período, suados, cheirando a cigarro e produtos químicos reclamaram do fedor – talvez nem percebessem o seu próprio cheiro.
Os fumantes, devoradores de cigarros pré-embarque,também reclamaram porque o cocô fedia mais do que o seu próprio cheiro insuportável de cigarro.
Os não fumantes, ainda cheirando a perfume, nada podiam fazer, era tanto fedor a sua volta que não conseguiam respirar. Resultado enfiaram suas cabeças para fora do coletivo, foram “mijados” pelo motorista e além do cocô agora o mijo.

Para quem reclamar?
Foram para seus destinos reclamando muito, procurando um culpado – até o prefeito já era culpado pelo cocô no ônibus – afinal alguém tem que ser culpado.
Na vida sempre haverá um Judas, alguém para julgarmos sem direito a defesa.
O cachorro, autor da infeliz obra, ninguém lembrou. A culpa era do pé que pisou no cocô; o pé pertencia a alguém e esse era ingócnito logo, vamos achar um culpado mais próximo, alguém conhecido que continuará sem direito à defesa.
O mais curioso dessa história é que tantas diferenças, dialetos, posições sociais e políticas, preferência múltiplas estavam unidos pela mesma merda.
Feliz au-au que uniu tantas diferenças, coisa rara hoje em dia.

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